31/10/2008

foda-se

Como se não chegasse ter fodido o carro contra o passeio e remediá-lo com peças usadas para poder circular devagarinho, chega hoje a notícia seca que o meu marido vai ficar novamente desempregado ao fim de um mês de o ter iniciado.
Ninguém me recomenda uma bruxa?

yourcenar

"A amizade é , acima de tudo, certeza – é isso que a distingue do amor."

carnaval

Quando comecei a ter liberdade para sair à noite, que não foi assim muito cedo, sim, que eu tenho uns pais porreiraços mas um bocado jurássicos na mentalidade, decidi pôr as contas em dia. Ou seja, saía quase sempre, a noite toda, muitas vezes chegava só mesmo a tempo de ver os meus pais sairem para o trabalho.
Durante alguns anos, mal parava em casa. Depois a coisa sossegou mais e comecei a sair só mesmo quando me apetecia.
Depois veio outra fase ainda, a de ser ponto assente que nas noites de quinta, sexta e sábado eu não ficava em casa. Desse por onde desse. Ia sempre tendo namorado e já sabíamos que estaríamos sempre juntos, onde quer que fôssemos, salvo excepções.
Quando acontecia não ter nada combinado, entendia que não ficaria em casa, de qualquer modo, e saía, algumas vezes sem destino nem companhia certa, alguma coisa haveria de aparecer. Muitas vezes o que aparecia não era de todo recomendável, mas eu não ficaria sozinha. Ficar sozinha nas noites de fim de semana deprimia-me. Ainda me deprime. É uma espécie de atestado de solidão.
Continuam a não ser muito recomendáveis as minhas opções para colmatar essa solidão. Hoje, como antes, saio na mesma, ainda que a companhia não seja a que mais apetece, ainda que o programa não seja o melhor.
Mas saio. A solidão do fim de semana pesa pela vida. A casa asfixia-me. O silêncio sufoca-me. Nessas noites saio sem prazer, à espera do prazer que há-de vir depois, o dos copos bebidos a mais, o das conversas que não me apetecem, o dos sorrisos sem significado. Um prazer relativo, ou não fosse ele toldado pelo álcool e pelo peso de um plano B, que é o que estas saídas são, um escape, uma máscara, uma fuga para a frente.
Hoje é sexta feira. Dia de me mascarar de gaja da noite.

30/10/2008

halloween

Hoje pus bâton. E vesti o meu casaco branco de inverno. E pus ganchos no cabelo. E saí de casa a achar que estava minimamente gira. E a achar que talvez afugentasse o escuro do dia.
Depois cheguei ao escritório e pus os óculos com que trabalho, que a idade já não perdoa. Achava que ainda estava gira. Mas olhei-me de soslaio no reflexo da porta da recepção e afinal, eu não estava uma miuda gira; estava uma espécie de coisa parecida com a Sarah Palin.

um dia é da caça, outro do caçador

Sempre me apoiei nesta frase para me mentalizar que melhores dias virão, que não se pode ganhar nem perder sempre, que a bonança há-de chegar, e depois a tempestade, depois novamente a bonança, neste ciclo alucinado que nos faz estrias no cérebros e rugas na pele.
Um dia é da caça, outro do caçador. Pois. Mas normalmente o dia em que perdemos, não vinha nada a calhar. Mais, normalmente esses dias sucedem-se, nunca mais dão lugar a outros.
Como o que aconteceu à minha amiga. Depois de contas e mais contas a ver se podia não entregar a casa ao banco, depois de vender o carro melhorzinho e ficar com um chasso tão velho como o meu, depois de olhar para os cartões de crédito e engolir o desespero, quando se levanta num dia de chuva e ruma a mais um dia no escritório, perde o controlo do dito chasso e fode-o todo no lancil de um passeio.
Há ciclos filhos da puta.

pietro ubaldi

"Tendes, ó homens, a liberdade das vossas acções, nunca a das suas consequências."

29/10/2008

fénix

Que merda, a maldita influência que o clima exerce em nós. E a crise. E os outros. E o medo. E o cansaço. E a ausência. E a falta.
Não haverá comprimidos mágicos para a amnésia? Para nos esquecermos de tudo? Para renascermos?

as minhas varandas

Sonhava com uma casa que tivesse uma varanda, onde eu pudesse esfumaçar à noite, sentada numa cadeira, de perna estendida, enquanto contemplava as estrelas no firmamento.
Em vez de comprar uma casa com apenas uma varanda, optei por uma que trazia três.
Passados quase dois anos, utilizei mais a varanda da minha amiga do que as minhas.
Mais valia não ter comprado a casa e alugar a varanda alheia. E como sei que nada me cobrava, ganhava com o negócio.

sociedades

O mal das sociedades que se fazem para jogar no euro milhões, no totobola e afins, é que quando nos cansamos de gastar dinheiro e desistimos, corremos o risco de sair mais tarde algum dinheiro.
Desisti de uma e os membros que ficaram, ganharam cento e tal euros cada um.
Estou invejosa, arrependida e fodida. Nesta altura do campeonato que jeito que me davam cem míseros euros! Ao que eu cheguei, caraças!

crónica de nada

Abro a janela que diz "nova mensagem" sem fazer ideia do que vou escrever. Alguma coisa há-de vir. Assim como quando se deixam janelas abertas na vida. Entra o que é bom e o que é mau. Tenho azougue, sabem o que é? No meu alentejo é íman. E eu tenho-o para certas coisas que me entram pela janela sem pedir licença.
Por isso, para me distraír, para fingir que não as vejo, escrevo coisas que não interessam a ninguém, como quem pinta por cima de uma parede suja.
Ontem à noite sentei-me na mesa da cozinha a organizar talões de compras e extractos bancários atrasados desde Julho. E falei com o Hugo, o meu gato. Ele ía-me respondendo com miaus, ía subindo para o meu colo, ía brincando com a medalha do meu fio. Depois deixou de me responder. Parei o que fazia e fui procurá-lo. Tinha ido aninhar-se dentro da minha mala, sim, que eu uso malas enormes, malotes diz a minha amiga e parceira de projectos bloguísticos. Sorri-lhe. Ao gato. Achei piada ao ninho. Todos precisamos de um ninho, de um esconderijo ou de um porto de abrigo. Cada um deita mão ao que pode.
Como a mulher, sessentona, que hoje viajou a meu lado no autocarro. Ia a ouvir música no telemóvel, sem phones. Toni Carreira, ou coisa que o valha. E ía cantando baixinho "ó-ó-ó-ó o teu beijo..." Era o ninho dela, suponho. Não se importou que a olhassem de lado, que uns se mostrassem incomodados e que outros se rissem. Era o seu ninho. Todos precisamos, não é?
Eu escrevo e na escrita não incomodo ninguém, ao contrário de quando abro a boca e aborreço toda a gente com lamúrias, queixas, cobranças. Escrevo e enquanto escrevo estou mais leve, estou longe, tantas vezes posso até ser outra, e sendo outra não me importo com o que entra pela janela.
Queria que me saísse o totoloto. Para a minha mãe deixar de trabalhar. Para não temer pelo futuro da minha filha. Para pagar a minha casa. Para ir viajar este fim de semana, para longe, sem outro destino que não fosse a distância, a lonjura, o refúgio.

28/10/2008

o parvo no cais

Ao menos uma encruzilhada. Ou até mesmo como o outro que não sabia por onde iria, mas sabia por onde não iria.
Mas esta coisa de nem se ver caminho à frente, de não se fazer a menor ideia daquilo para que se acordará. De não se ter planos, projectos, expectativas. Esta coisa de pôr um pé à frente do outro, de saber que um dia igual se seguirá ao presente, de não se caminhar para lado nenhum específico.
Assim uma pessoa cansa-se. Às vezes até lhe apetece recusar-se a andar. Ninguém acena com uma cenoura, não há desenhos dobrados na carteira à espera de vez, não há datas marcadas nem por marcar.
Projectos são combustível. Andar para quê? Para onde? Por quanto tempo?
Era o parvo, não era?, que ficava no cais. Nem paraíso, nem purgatório, o limbo, a indefinição, a fronteira, o lugar sem nome.
Trabalhar, comer, dormir. Ao menos que não pensasse. Que ficasse a ver as barcas, ou melhor, a ver navios, no maldito cais onde se espera por nada.
Onde nos levam os nossos dias? Como aceitar que a vida é para se ir vivendo se o que se tem é mera existência? Como sanar a tristeza e a decepção se não se pára de pensar, se a imobilidade dos dias não contagia a do cérebro?
Uma pessoa quer coisas. Quer fazer coisas. Construir. Sentir. Viver. Planear. Esperar. Ter um objectivo. Um objecto.
Não é?

coisas da idade

O que nos acontece com a idade, quando ultrapassamos o limite dos 30 anos e os 40 se aproximam a passos largos?
Quanto a mim, muita coisa me aconteceu. Boas e más. Mas acho que passo um pouquinho despercebida quando olho para o lado e verifico o impensável há alguns anos atrás, quando estava na casa dos 20, tal como uma amiga minha, a minha amiga, melhor dizendo. E não consigo disfarçar o sorriso porque acho que foram benéficas na sua existência.
Um animal lá em casa? Tive um rato e despachei-o numa semana! - adoptou um gato de 2 meses que sobe pelos seus sofás e tenta a todo o custo subir também pelos cortinados para lhe dar um novo look.
Plantas? Não me lembro delas e como não as rego, acabam por morrer. - hoje tem a casa com imensas plantas. Não falo só dos cactos que não necessitam de água regularmente. Tem plantas que necessitam de cuidados e não é que sobrevivem e crescem com as folhinhas verdes? E até desvia algumas de sítios alheios.
PSD? São todos uns fascistas! - e não é que se apaixonou a sério por um homem de convicções à direita? E não é que ele se deixa arrastar para a festa do Avante? (O que o amor faz!)
Foste a uma tourada? Como é que foste capaz? - e um belo dia senta o rabo num banco de uma Praça de touros. OK, foi uma negociação com a sua cara-metade. Mas sentou-se!
Hum... Isto da idade provoca alterações profundas na gente, hem?
Portanto, vamos lá à velha máxima: nunca digas nunca.

27/10/2008

da resolução número 4

Uma das minhas resoluções dos 38 anos (lembram-se?) foi escrever num caderno todas as coisas boas que me acontecessem. Verdade seja dita, tenho escrito todos os dias, mas porque me forço a valorizar as pequenas coisas, que, afinal, é para isso que serve o exercício.
Hoje estava um bocado desalentada, não tinha nada, mesmo nada para escrever, mas depois a minha grande amiga, esta coirona que aqui se apresenta, tinha escrito umas coisas tão simpáticas. Tão saborosas. Tão felizes. Depois vocês logo vêem, se ela assim o entender. E eu pensei: mesmo que não tenha nada de objectivo para escrever no caderno, posso sempre escrever que nada de muito mau me aconteceu, se for o caso, e, mais importante, que mesmo que aconteça, esta amiga tenho a meu lado. Dê por onde der.

considerações de uma gaja não casada

(para confortar as gajas casadas há 10 anos)

1. Não tens quem te ajude a levar o lixo e as garrafas para a rua.
2. Tens que aprender a usar o berbequim e a chave inglesa.
3. Não tens colo para descansar no final do dia.
4. Vais ao cinema sozinha.

Opá, não posso evitar... aí vão as coisas boas:
5. Podes mudar a disposição da casa que ninguém te mói o juízo.
6. Não tens que almoçar com os sogros e com os cunhados.
7. Não tens que vincar calças nem passar camisas.
8. Podes receber chamadas de amigos a desoras sem ouvir reclamações.
9. Ninguém ressona a teu lado, se não quiseres.
10. Vais ao cinema sozinha.

considerações de uma gaja casada

O que acontece nos casamentos, a partir dos 10 anos de vida conjunta?
1 - a puta da tampa da sanita fica sempre levantada quando o macho resolve ir mijar
2 - dorme-se de costas viradas, para amenizar o som do ressonar do outro
3 - não se veste a lingerie dos primeiros anos
4 - o macho ganha barriga e passa a vida a desarrumar a maldita balança
5 - deixa-se de andar de mão dada
6 - de manhã, entra-se no carro em silêncio e saí-se dizendo apenas um até logo
7 - deixa-se de dar linguados
8 - deixa-se de tomar banho juntos
9 - cada um vê seu canal de televisão
10 - deixa-se de contar os anos de casamento

uma escola violenta?

Frequentei uma escola no ensino secundário, onde não mais voltei.
Lá percorri os corredores compridos com os livros e os sonhos debaixo do braço, passo firme, certa de que, quando a deixasse seria uma grande mulher, com convicções, com coragem, com as decisões bem tomadas, ponderando sempre os caminhos por onde seguiria, como o fizera até ali.
É claro que nessa altura eu era uma miúda de 16, 17 anos. E nessa idade tudo parece estar bem encaminhado. Aquela escola deixou-me saudades pois foram os melhores anos que passei enquanto estudava. Era uma escola calma, o pessoal encaminhava-se calmamente para as salas, fazíamos jantaradas com alguns professores, pois a relação era muito boa, ouvíamos os seus conselhos, respeitávamos aqueles que nos ensinavam.
No fim-de-semana, num telejornal de uma estação televisiva qualquer, ora lá ouvi o nome da minha velha escola secundária. E porquê? Porque é agora das escolas mais violentas da zona lisboeta, onde miúdos de 13 anos se envolvem em lutas durante os intervalos, sem que os contínuos se atrevam a intervir. Os pais por sua vez confessam a sua insegurança e exigem maior protecção policial.
E eu achei que aquela não era a escola onde eu me passeava pacatamente nos intervalos. É certo que foi há 20 anos, mas como podem as coisas terem mudado de tal forma? Que é feito do respeito, da camaradagem? Estarei realmente "cóta"? Será isto normal nas novas gerações?
Nã... Eu continuo a achar que todos estes comportamentos são uma alucinação minha.
Só pode.

eu sou o Bob

Quando estou chateada, para não ir mais longe na coisa, apetece-me fazer compras. Mas, como sou gaja arraçada de gajo, ou pelo menos assim mo têm repetido, as minhas compras, as que me acalentam, não são roupas e perfumes e acessórios. Não, um pouco mais além. Gosto mesmo é de comprar coisas para montar em casa, estantes, cadeiras, armários. Como se o trabalho de montagem em casa prolongasse o prazer da coisa.
Hoje é assim. Não importa se a conta do cartão cresce, já estou quase por tudo. Já fiz a pesquisa, já tenho as referências, hoje a magnífica ferramenta que a cara-metade ofereceu mais o resto da caixa de ferramentas entram em acção. Porque hoje podia ser um dia melhor e não é.

24/10/2008

água-benta

O meu amigo Zé passou hoje pelo escritório. Depois de estar a par das novidades (1. O pai de uma colega suicidou-se; 2. Uma outra teve sofreu uma paralisia facial e ficou ainda mais horrível do que era; 3. Um colega viciado em cocaína virou completamente a sua vida do avesso) disse que devíamos mandar vir um padre e benzer a casa.
Claro que nos rimos os dois. O que fazer mais? A crise continua dentro de casa, o défice também.
Pouco nos resta.

sublimada

Não importa dizer qual foi o filme, a questão não é essa. A questão é podermos chorar com as dores dos outros e no processo esquecermos as nossas. Rir também, claro. E depois lembrarmo-nos que é uma indústria poderosa precisamente porque lida com as nossas emoções. Uma fábrica de sonhos.
Vi o filme. Não importa qual foi. E no final, veio aquela sensação quase dolorosa que se anuncia nas mãos, aquele início de pranto que não entristece, a tristeza veio antes, mas que liberta.
Podia, e devia, diriam alguns, mudar muitas coisas em mim, mas esta não; esta possibilidade de libertar tensão através de uma dor sublime.

gap

A minha mãe, que sempre primou pelo politicamente correcto, pela tolerância, por pôr água na fervura e por outras muletas similares, perguntava-me, há dias, como me corre a vida amorosa. Respondi-lhe que corre bem, que há sempre coisas de que não gostamos, que há sempre contrariedades, mas enfim, que já se sabe que não há príncipes perfeitos nem nas histórias de encantar, a mim, pelo menos, enfadam-me de morte.
Para começar, deve ter estranhado que eu tenha respondido tanto. Depois disse-me: "Tens de ter paciência, filha. Uma pessoa para se dar bem com outra, tem que calar muitas coisas, tem que engolir muitos sapos."
Somos mulheres diferente, de gerações diferentes, com posturas diferentes, com perspectivas diferentes, com passados diferentes. Por isso não lhe disse: "Para se dar bem com outra... e para uma pessoa se dar bem consigo mesma, o que tem de fazer?"

escolhas

O arco da velha, com link aí ao lado, fez-me lembrar os Hooverphonic. Às vezes quando os escolho lá em casa e estão amigos presentes, reclamam. Que é cinzento. Que deprime. Que são barra pesada. Mas eu gosto.
Assim como no MP3 anda Maria Callas mais o Canção ao Lado dos Deolinda.
Tal como no carro anda um CD dos Bon Jovi para eu cantar em altos berros enquanto a fila não me deixa chegar ao meu destino.
Como para aspirar escolho Sheryl Crow e só depois, enquanto o chão seca, me sento a ouvir Pink Floyd.
E para me acompanhar no duche, salvo seja, Sérgio Godinho.
No barco, atravessando o Tejo, uma de cada, dos meus cds sempre, sempre desarrumados, a tocar aleatoriamente, sem eu saber qual o freguês que se segue.
É assim.

resoluções, parte 2

7. Brincar mais com o Hugo, o meu gato.

23/10/2008

parece-me que não há comentário possível


Pledge to go fur-free at PETA.org.

frustrações

Não há nada pior que receber cartas registadas das Finanças. Ainda por cima terem que ser levantadas nos Correios e termos que dormir uma noite na expectativa do que nos aguarda.
Para mim cartas das Finanças são como alfinetes a picarem-me, apesar de achar que está tudo em dia, fica sempre o factor surpresa. Então quando são ofícios, pior ainda.
E quando se recebe pela mesma altura uma carta do banco para nos deslocarmos lá, lembrando as prestações que vão custando cada vez mais a pagar?
Frustrante é no dia seguinte verificarmos que a carta das Finanças não é nada significativo e deslocarmo-nos ao banco, ficarmos uma hora à espera de boas novas e no fim dizerem-nos que não têm sistema e não conseguem para já dizer-nos nada. Ligamos depois.
Como se recupera da noite mal dormida? Quem nos paga as horas em que não trabalhámos?
Puta que pariu isto tudo!

22/10/2008

resoluções

Em qualquer dia podemos fazer resoluções de ano novo, creio. Até porque parte delas fica sempre por cumprir.
Eis as minhas:
1. Reduzir em 5 o número de cigarros fumados por dia.
2. Em casa, fumar apenas na varanda.
3. Fazer bicicleta pelo menos 2 vezes por semana.
4. Anotar num caderno, diariamente, as coisas boas que me acontecerem.
5. Comer fruta pelo menos uma vez por dia.
6. Levar a reciclagem para o ecoponto pelo menos uma vez por semana.
(À medida que me lembrar de mais, vou acrescentando à lista)

tesourinho

Assim escreve a minha filha de 11 anos:

"Um amigo verdadeiro
Anda de mão dada comigo
Dá-me um sorriso e um beijo
Assim é um verdadeiro amigo

Um amigo sincero e bonito
Com ele posso falar
Posso saltar e correr,
Sorrir, chorar e brincar

A amizade é assim:
juntos podemos sonhar
Podemos ser companheiros
E aprender a amar

Um amigo é para sempre
Damos-lhe muito amor
Damos-lhe alegria e sorrisos
E partilhamos a sua dor"


21/10/2008

éne

Às vezes é preciso pormos a armadura, os medos, as inseguranças, as máscaras de lado e usufruir. Apenas.
Dê por onde der, haja o que houver, aconteça o que acontecer, este é o momento que conta. Agora. E agora amo este homem que me ama a mim. Que muitas vezes me faz feliz. Que muitas vezes me faz acreditar. Que muitas vezes me faz querer.
Vale a pena.

ego

Há lá coisa melhor para o ego feminino do que regressar de um almoço agradável entre bons e velhos amigos e pelo caminho ouvirmos assobios, buzinadelas, piropos e acenos?
Então quando se tratam de buzinas de camiões, meus amigos... o som é tal que até o ego parece ir saltar pela boca fora!


dia 21

1. Há presentes e presentes. Este, na mão da minha amiga, nem o abri. Foi o gajo dela que mo mandou e eu sei que com o que está lá dentro quer fazer-me "rir". Mas já me faz rir mesmo sem o abrir. Por isso não o abro e guardo-o para um dia de chuva.

2. Depois há as palavras e os abraços dos que são mais importantes para mim e que na primeira hora da manhã me aqueceram os olhos e o coração.

3. Há também, claro, o mimo da cara-metade, todos os mimos, tantos-tantos.

Parábens

Há muito que não oiço o som estridente das tuas gargalhadas. Nem das minhas.
E hoje lanço um olhar para o passado, apesar de tentar não o fazer. Nele deixámos encerrados muitos sentimentos, muitos fantasmas, muitos começos e fins.
Olho para os dias de ontem, porque te vi crescer, como pessoa, como mulher, como mãe. Vi-te chorar e rir. Vi-te agarrar os dias com uma coragem que só as grandes guerreiras e as mulheres corajosas conseguem fazer, munida das armas que a vida te ensinou a utilizar: a vontade, a persistência, o alento. Houve dias em que te invejei.
Houve dias em que me apeteceu beijar-te e abraçar-te. Pegar-te ao colo, fazer-te festinhas na cabeça e adormecer-te para que tudo não passasse de um sonho mau. Não o fiz. Pensei que a vida seria generosa contigo, que a turbulência passasse como passa uma trovoada.
Hoje olho para ti. Completas mais um ano da tua existência. Mais bonita do que eras, já to disse.
Apesar de tudo o que te atormenta, te rouba o sono, te deixa o coração num desassossego, te deixa de lágrimas nos olhos, continuas a caminhar em direcção ao teu lugar ao sol. Porque eu sei que ele existe e tu vais encontrá-lo.
Hoje não é um dia qualquer como me disseste ontem. É o teu dia.
Há dias em que te vejo a tristeza no olhar. Mas quero lembrar-te que há dias felizes, dias em que o sol brilha, em que tudo parece recomeçar. Aproveita-os, mesmo que os dias seguintes sejam cinzentos e chuvosos.
Quero dizer-te que se te apetecer saltar-me para o colo, eu estou aqui.
Parabéns, minha guerreira!

20/10/2008

dores de alma

Dos medos que mais me atormentam, a morte é um deles.
Tenho medo de perder as pessoas que mais amo, tenho medo da forma como me possam deixar para sempre.
Já presenciei a dor de três mulheres cujos pais se suicidaram.
Não consigo imaginar a dor dessas mulheres e o que lhes passa pela alma.
E não quero falar mais disso...

o pai dela

Nós nunca imaginamos que os nossos pais se possam suicidar. Por isso imagino que não seja fácil aquilo que ela está a sentir.
Será que quando alguém próximo de nós se suicida há forma de não sentirmos a culpa de acharmos que se calhar podíamos ter feito mais?

19/10/2008

memórias

Achei num arquivo perdido do computador de casa uma coisa que escrevi num dia de aniversário. Era assim:
"Por natureza sou uma mulher de paixões. Apaixono-me por pessoas, por causas, por valores, por lugares, por músicas, por livros; não me basta gostar apenas, não consigo, não encontro um meio termo para os meus sentimentos, e então aquilo ou aqueles por quem me apaixono ocupam dentro de mim um espaço e uma energia que, muitas vezes, não sei controlar nem conciliar."
Agora estou quase quase a fazer anos outra vez. Porra, não aprendi nada.

17/10/2008

o barbeiro

Ontem surgiu a pergunta: Porque é que escreves no blog? É um escape, respondi. Mas é mais do que isso. É uma maneira de enganar as cores, de ocupar os dedos, de organizar ideias, de libertar lastro.
Havia uma história que li em miuda, da qual não me lembro do nome -nada que uma chamada telefónica não resolva- em que um fulano, acho que um barbeiro, sabia uma série de segredos que lhe iam contando. Às tantas, tão carregado estava de segredos alheios, que decidiu contá-los acho que para dentro de uma caixa e enterrou-a. Depois a história continua, mas a questão é esta necessidade de ir contando coisas, não todas, evidentemente, que afinal este é um espaço potencialmente público e o mundo é pequeno, mas algumas, mesmo que seja para uma caixa que a seguir enterro no quintal.
Assim, tanto porque me é difícil partilhar preocupações, emoções e afins, como porque me é difícil fixar-me num só sítio (para isso já me basta a realidade diária), tenho um sem fim de blogs, alguns só com meia dúzia de posts, outros com um bocadinho mais de assiduidade, outros de que me vou sucessivamente despedindo e substituindo por outros; como dantes fazia com os diários, nunca acabava um caderno, às tantas cansava-me do registo, ou até mesmo de mim, e começava tudo outra vez. Exactamente o mesmo que deveríamos fazer com as nossas vidas, se quiséssemos.
p.s.: A história a que me refiro chama-se O Príncipe com Orelhas de Burro, e afinal o barbeiro não guardava vários segredos, apenas um, e não o contou para dentro de uma caixa mas sim para um buraco no chão. Mas acho que se percebe a analogia.

todos os nomes

Os meus afectos, as minhas relações pessoais estão de tal modo compartimentados que até diferentes grupos de pessoas me tratam por diferentes vocativos.
Pode dizer-se que isto não abona muito a favor da minha saúde mental, mas ela já anda tão de maõs dadas com a economia, tanto a minha, caseira, como a global, que, enfim, é igual ao litro.
Estou convencida de que é a singularidade do meu nome, associada à quantidade imensa de letras mais a sua sonoridade séria e fria, que leva as pessoas a escolherem uma alternativa.
Assim, uns cortam-me o nome, optando por umas letrinhas apenas, outros encontram um nome alternativo, no caso um substantivo simpático, outros transformam-mo com um "inha", outros ainda, vá lá, tratam-me mesmo pelo meu nome.
Tudo isto me é agradável. Em cada campo. Ao ponto de estranhar quando alguém me chama de outro modo. Como quando se chama os filhos "Anda cá, Cátia Vanessa" e eles já sabem que quando os chamamos pelos dois nomes, a coisa vai mal.
Não gosto quando a coisa vai mal.

freud

Eu sei o que o Fred diria sobre o que sonhei, oh se sei. É que todos temos um bocadinho de médico. E de poeta. Ah, e de louco.
Daqueles sonhos estranhos, como se não o fossem todos, mas com uma estranheza diferente. Daqueles que enquanto sonhamos não nos perturbam, pelo contrário, sabem até muito bem, este soube mesmo-mesmo-mesmo bem, mas que de manhã nos deixam à nora. Tipo, por que raio sonhei eu aquela treta? De onde me vieram tão loucas ideias?
O que eu acho é que devia haver uma espécie de gravador de sonhos, aposto que os meus davam estrondosos sucessos de bilheteira, embora não sejam nada ao estilo de hollywood, antes uma espécie de cinema francês e italiano, vertente do-melhor-que-há.

16/10/2008

"rui santos pergunta..."

Se alguém nos diz que reunimos todos os requisitos para ser mãe do seu filho, isso quererá dizer que, como os cavalos, temos bons dentes e boa pelagem?

espanholês

Quadra recebida ao amanhecer, de amigo espanhol tentando escrever em português. Só porque às vezes sou uma queixinhas e reclamo da falta de luz nos dias.

"Una estrela se a perdido
No céu não apareze
En na tua casa se a metido
Nos teos ojos resplandeze"

15/10/2008

uma casinha pequenina

Giro, giro é ver como duas crianças se fazem amigas. Amigas de verdade. Como estas duas miudas, uma com 8 anos, outra com 15, amigas do peito, sangue e raízes similares, nos genes a amizade incondicional que une as suas mães.
O amor aprende-se. E elas aprendem-no como o aprenderam as mães, quando a mais velha andava de nariz no ar à espera que o avião chegasse de Paris com a bebé. Aprendem-no nos fins de semana que planeiam, nos convites que trocam, nas conversas improváveis que mantêm até de madrugada, deitadas no chão do quarto.
E as mães, babadas, ficam de lado revendo-se naquelas duas pequenas miudas, esperando que tenham mil vezes mais alegrias do que tiveram, que sejam mil vezes mais felizes do elas são.
E sorriem uma para a outra com a cumplicidade que é só delas.
A felicidade também se faz da felicidade dos que amamos.

dia sim, dia não

Uns dias uma gaja adora chegar a casa depois do trabalho, descalçar-se a deixar as botas espalhadas no chão enquanto se manda para cima da cama e descansa sem pressas de cozinhar ou apanhar a roupa. Outros dias lamenta não ter quem a espere para ouvir o chorrilho de queixas que traz no bolso.
Uns dias uma gaja adora sentar-se em frente ao computador com um tabuleiro no colo a comer lasanha de microondas. Outros dias lamenta não se sentar à mesa a jantar enquanto comenta os noticiários.
Uns dias uma gaja adora estar com a depilação atrasada uma semana. Outros dias lamenta não ter quem lhe sinta a macieza da pele.
Uns dias uma gaja adora ficar à conversa com uma amiga até de madrugada. Outros dias lamenta que não a chamem para se ir deitar.
Uns dias uma gaja adora mudar os móveis e a cor das paredes, sem ter que consultar ninguém. Outros dias lamenta não ter quem a ajude a ver onde fica melhor o sofá.
Uns dias uma gaja adora não ir directamente para casa sem ter que telefonar a avisar. Outros dias lamenta que ninguém lhe abra a porta antes de pôr a chave na fechadura.
Uns dias uma gaja adora ir fazer compras de bricolage. Outros dias lamenta que ninguém reclame que já não há espaço para mais estantes.
Uns dias uma gaja gosta de levar bolinhos de mel para o seu jantar. Outros dias lamenta não ter com quem reclamar porque alguém vai jantar lá a casa e ela nem sabia.
Uns dias uma gaja gosta que tomem conta dela. Uns dias gosta que alguém a espere. Uns dias gosta de dizer "nós" em vez de "eu". Uns dias gosta de se sentir mimada.
Outros dias distingue a realidade dos filmes. Outros dias gosta daquele espaço entre as quatro paredes. Outros dias gosta de dormir com a janela aberta. Outros dias gosta de levantar o nariz e dizer "sou capaz".
E a gente que as entenda.

14/10/2008

o meu melhor amigo

Já pouco me importa o que as pessoas pensam de mim.
Os meus pais fartaram-se de me criticar quando o Freud foi viver lá para casa, tinha 3 meses. Tás cansada de estar bem, os cães são para estar na rua, cagam e mijam em todo o lado, blá blá blá.
O certo é que ao princípio me sentia constrangida de os convidar para irem lá a casa.
Quem realmente gosta de animais acaba por se afeiçoar a eles, mais do que a certas pessoas. Por muitas razões. Pela lealdade, pelo carinho, pelo adivinhar de sentimentos. O Freud é um caniche maluco que se tornou o meu melhor amigo. Chora quando eu choro, deita-se no meu colo quando estou triste, pula quando estou contente. E de manhã lambe-me os pés para eu acordar.
Contrariando os receios dos meus pais não faz cócó nem xixi em casa (na minha) e por ali anda, com liberdade total para se sentar nos sofás, dormir aos meus pés ou aconchegar-se nas nossas pernas quando tem frio.
Ele é o meu melhor amigo.
O que os outros pensam... não me importa.



falências III

Uma das minhas melhores e mais caras amigas falava-me, à beira das lágrimas, de probabilidade de ter de entregar a casa onde vive à instituição bancária que a financiou por lhe ser incomportável pagá-la.
Foi ao que chegámos. A ter, ainda assim, a sorte de ter trabalho, de ter ordenado mais ou menos certo no final do mês, de não despirmos a camisola pela qual corremos há muitos, muitos anos, de virmos todos os dias, mesmo nos de mais intensa trovoada e desespero, trabalhar, e vermo-nos nesta situação de ruptura anunciada, de dias contados, de medo, de desalento.
Como esta minha amiga há milhares de pessoas. Pior do que ela haverá muitas mais. Olhamos em volta e não vemos para onde seguir.
Faliu a confiança em dias melhores? Faliu a esperança? Os sorrisos? A coragem? A resistência?

bancarrota


Eu sei que tinha prometido que não iria falar das coisas más, das coisas que me atormentam e me roubam o sono. Mas se não o fizer, vou ausentar-me novamente deste espaço.
A crise que anda por aí, que ataca países, que ameaça a falência de inúmeras empresas, que lança milhares de pessoas no desemprego e destabiliza as bolsas, bateu à minha porta. Entrou sem pedir licença, assaltou a minha carteira e as minhas contas bancárias e deixou-me à beira do desespero, tentando inventar dinheiro, soluções. O pior é que nem uma coisa nem outra aparecem.
E penso todos os dias que nunca estive tão tesa, penso que não sou aumentada há mais de 10 anos e procuro desesperada um part-time milagroso que possa exercer em casa, permitindo-me continuar a acompanhar a minha filha. Será pedir muito, caraças?
Estou a chegar à bancarrota.
Desculpem, mas eu tenho que o dizer: caralho foda esta merda toda.

13/10/2008

enganos

Independentemente de uma pessoa ter alguma espécie de resistência a ventos e casamentos norte-americanos, é difícil sentir alguma espécie de euforia com a possível eleição do Obama. Será, com certeza melhor que alguém que se entenda com o Bush, mas não deixa de ser norte-americano.
São tantas, mas tantas as ocasiões em que preferia estar enganada.

cinzento

Eu até sei que não estamos propriamente em época de esperar boas notícias, mesmo pequeninas, mas que nos dessem uma bolhinha de ar para respirar, eu sei disso.
Opá, mas numa segunda feira cinzenta em que a crise continua (e nem desta vez vão ser os "ricos" a pagá-la) uma pessoa ouvir o nome do Rui Rio como possível candidato a primeiro-ministro, digamos que não é exactamente coisa que nos faça ver luz alguma ao fundo do túnel.

10/10/2008

falências II

Escutado acidentalmente:
"Dantes tinha de pensar nas letras que tinha para pagar para não me vir tão depressa. Agora tenho de tentar esquecer-me delas para o conseguir pôr de pé."

falências

O capitalismo faliu tanto agora como o comunismo faliu em 89 ou 90 ou lá quando foi que o muro caíu.
Agora, isto é um bocado como a história da princesa e da ervilha: ou não faliu nenhum ou faliram os dois. Na primeira hipótese, continuará tudo como dantes, diatríbes envolvendo Cuba e os Estados Unidos, Chavez e a União Europeia, impostos de patrões e impostos de trabalhadores, e por aí fora. Na segunda hipótese teríamos de encontrar uma qualqyer terceira via, uma espécie de "capitalismo popular" ao jeito da dama de ferro ou de "comunismo empresarial".
Venha o diabo.

09/10/2008

mééé

Há cabras que não fazem mééé. Tomam duche de manhã, levam os miudos à escola, vão trabalhar, tudo normal.
Não fazem mééé mas dão coices, daqueles disfarçados, que a maior parte nem nota, a não ser quem apanha com eles em cheio nos olhos.
Dantes, quando eu era nova e ingénua, depois do coice ficava assim muito enfiadinha, com a supresa de ter sido coiceada, com a desilusão, com a tristeza de haver gente tão falsa e sem saber como reagir.
Agora já não. Já tenho calo e cheiro uma cabra à distância. Os sinais são claros, claríssimos, daqueles que a gente sente mas pelos vistos os outros não vêem.
Felizmente nem todas as gajas são assim, felizmente a maior parte das gajas não é assim. Mas as que são, porra, são a valer, de forma tão perfeita que nem dá para registar em filme o momento do coice. De forma tão perfeita que nem sequer acreditam em nós quando dizemos: aquela gaja deu-me um coice.
Por isso, uma pessoa fica obrigada a ser também cabra, a responder à letra, a fazer o mesmo jogo sujo enquanto tapa o nariz por causa do cheiro e tenta digerir a cegueira dos que estão em redor. Porque uma cabra não é cabra para toda a gente, uma cabra é esperta, olá se é.

a planta

Eu sei que sou cabra, cabrinha, pronto. Mas não no sentido de prejudicar alguém.
Sou uma cabra requintada.
No período de férias tornou-se uma prática comum abandonar animais, como se fossem bonecos velhos que estorvam e ocupam espaço. Este Verão cheguei à conclusão que também se abandonam plantas. No enorme prédio onde vivo, em pleno Agosto, havia pisos que estavam praticamente vazios. O meu era um. Só eu não me tinha ausentado. Até a senhora da limpeza tinha ido de férias.
Num cantinho do patamar do meu andar, lá estava uma planta. De dia para dia parecia mais amarela, apesar de eu a regar.
Um dia pensei que talvez ela precisasse de claridade e à noite, feita assaltante, abri a porta e sem fazer ruído, e sempre controlando os elevadores, agarrei nela e levei-a para casa. Arranjei-lhe um cantinho lá em casa onde o sol bate, soalheiro.
E não é que ela parece que ganhou vida?
Fim de Agosto. Um dia cruzo-me com uma das minhas vizinhas que me aborda, dizendo: por acaso não deu conta de levarem uma planta que eu pus à minha porta, não?"
Fiz o meu melhor ar de espanto e arregalei os olhos: uma planta? Levaram-lhe uma planta? Isto realmente, há gente para tudo!
Quando voltei costas, sorri, com a certeza de que tinha feito uma boa acção.
E a planta lá continua, verdinha, saúdavel e com muita luz.

08/10/2008

Descontracção

Entrou como uma outra pessoa qualquer, com normalidade, com o ar de quem sabe bem o que procura. E eu recebi-o como todos os outros clientes, com um sorriso e convidei-o a sentar, enquanto folheava as tabelas para lhe poder fornecer os preços que pedira. Tenho por hábito fixar as pessoas nos olhos enquanto falo com elas e pensei que com este não fosse diferente.
E enquanto eu lhe fornecia os preços ele só murmurava "hum, hum", "hum, hum". Levantei os olhos para lhe explicar o que escrevera numa folha e o seu olhar não se desviou do meu decote.
E o meu sorriso esvaiu-se.
"É para comprar agora?" - perguntei friamente
E ele respondeu-me, sem desviar os olhos das minhas mamas:
"Para já era só para ver".
Fechei as tabelas, bruta. Levantei-me.
"Já viu?"
O homem levantou-se também, como que acordando. Provavelmente estaria a sonhar que estava a dormir nos meus volumosos seios. Agarrou no papel que lhe estendi friamente.
"Vou pensar no assunto, obrigado"
E saiu com a mesma descontracção com que entrou.

contributos

Há dias um puto perguntava-me: "O que é que tu fazes? Qual é o teu trabalho?"
Porra, que os putos têm mesmo o dom das perguntas difíceis. Eu não sei explicar isto aos miudos. Esquemas, labirintos, fintas, que nome decente é que se dá a isto?
Por isso, fiz como a minha mãe que fugia a todas as minhas perguntas e respondi: Bato recordes a jogar jogos no computador.
"Fixe"!, disse o puto, "Quando for grande também quero."
Pronto, já contrubuí para o melhoramento da geração que se segue.

07/10/2008

A galinha e os ovos

Eu considero que cada post que consigo escrever e publicar é mais um ovinho que esta galinha põe. Não tenho galo para me galar mas tenho uma pinta que julga que esta merda de cagar ovos é quando a gente quer. Primeiro tenho que os pôr, depois sentar-me em cima deles para os chocar, e depois esperar que a casca se parta para os publicar. Como às vezes não gosto deles, estrangulo-os logo à nascença. E o ciclo repete-se.
A pintaínha abana-me o computador e pergunta: "atão?".
Eu bem me esforço, mas no meu galinheiro não passo o dia a cacarejar...

Pensamento



"Amigos são anjos que nos levantam pelos pés quando as nossas asas não conseguem lembrar de como se voa."

a crise e o meu reino

Algo está podre no meu reino quando os afazeres são tantos que não me permitem vir aqui deixar um post, pôr um ovo, marcar a minha pegada na lama, a minha mão no cimento, a minha bandeira no topo do monte, a minha mija ao canto do sofá, a minha piada no balcão do café, o meu post-it na porta do frigorífico para quem chegar primeiro a casa.
A crise, a crise, a crise... Não me importava nada de não ter medo dela, de continuar a escrever sobre nada porque nada havia para dizer, em vez de ser por andar a fugir com o rabo à seringa.
Porra, anda uma gaja a esmifrar-se uma vida inteira, a privar-se de uma data de coisas, daquelas que já não voltarão a assomar à janela, a controlar o ponteiro da gasolina, a escolher os produtos de marca branca nos supermercados, a comprar tabaco em espanha, a comprar vernizes nos chineses, a cortar o cabelo em casa, a amar e detestar o cartão de crédito, a suportar um trabalho que roça a indignidade, para isto, para se abeirar dos 40 à beira de um ataque de nervos, para não dizer de pânico.
Fiz uma folha de cálculo e amldiçoei o Bill Gates por não fazer milagres com a matemática, por não ter implantado nas fórmulas a da mágica de multiplicar o dinheiro. Como é possível que as minha contas nem dêem resto zero, que teimem em dar resultados a vermelho?
Se alguém soubesse de um sítio para onde se pudesse fugir e me contasse o segredo...

cordel

"O águia do graveto" é o título. Só por aqui, diria que nada de auspicioso de anuncia. Mas não julguemos o livro pela capa, neste caso, pelo título.
Leio-o porque conta a história da vizinhança, e ninguém escapa a esta curiosidade mórbida de saber os podres daqueles que conhecemos, ainda que vagamente.
Mas não é fácil. A escrita é assim, como dizer?... do piorzinho que já me tem passado pelas mãos. Mas mau, mau mesmo. Diálogos supostamente rebuscados que ninguém nunca teria na vida. Pseudo-análises comportamentais que nos obrigam a reler as frases sem que nem assim consigamos entender que raio quer o autor dizer com tamanho descalabro de ideias e de sintaxe.
Depois ainda se pensa: Bem, que se pode esperar se as histórias, as personagens em que se baseiam são aquilo que se sabe? Bem, mas isto não serve como desculpa.
O livro é uma espécie de "Eu, Carolina" do mundo do cauchu, cheio de ressentimento, de massagens ao ego, de lavagem de roupa suja, tudo muito certo e aceitável numa edição de autor, mas credo!, é tão mau.
Só mesmo a minha coscuvilhice me mantém agarrada às páginas onde sublinharia quase tudo como anedota, se o livro fosse meu.

06/10/2008

miss piggy


A porca estava fula, fechada da pocilga desde a véspera, sem nada para comer para poder ter a tripa limpinha quando chegasse a hora do juízo final, ou seja, da faca espetada, certeira na garganta.

Quando lhe abriram a porta, já depois de terem preparado a bancada do seu sacrifício, saíu como touro enraivecido e andou pelo meio das galinhas como se caminhasse em cima de saltos altos, ou pelo menos foi assim que as miudas pequenas viram a coisa. O passeio foi curto. Os "cowboys" depressa fizeram um laço e lho passaram no focinho. Então já a puderam arrastar até à sua última tábua, apoiada entre um bidon ferrugento e um muro.

Quatro homens lá conseguiram pô-la em cima da dita tábua. À volta a assistência, uns divertidos, outros já a pensar nos enchidos e nas febras, outros espreitando por entre dedos, que as pessoas sensíveis não gostam de ver matar galinhas, mas gostam de as comer, já a Sophia nos lembrava disto.

Depois de dura luta entre o animal e os seus carrascos, lá a imobilizaram e o homem das botas brancas de borracha espetou-lhe a faca na garganta. Neste ponto, já uma das mulheres segurava um alguidar verde para apanhar o sangue que corria como se tivéssemos aberto a torneira da cozinha.

Entre guinchos e urros, a porca lá foi morrendo, 80 quilos de carne a perder força e firmeza, as patas traseiras bem seguras por um dos homens, que ao mesmo tempo defendia a sua genitália, preparado para o famoso "esticar do pernil" da sacrificada.

Crianças, adultos, ninguém arredava pé nem afastava olhos e câmaras de filmar da morte indigna da bicha.

Com o corpo da porca ainda aos solavancos, o homem das botas de borracha branca acendeu o maçarico e começou a queimar-lhe o pêlo. Nem o cheiro nos afastou dali. Enquanto o homem continuava a queimar a porca, outro aproximou-se com um sacho e começou a raspar a pele. Ao fim de minutos, depois de quase toda a gente lá ter ido raspar um bocado, a porca estava branquinha, inerte e de manicure feita.

Duas horas depois já as mulheres coziam o seu sangue num tacho, com alho e azeite e os homens só lamentavam não ter logo começado a comer enquanto a porca ainda se sacudia despedindo-se de uma vida de engorda.

O fígado, o coração, todos os viscos das suas entranhas, pareciam ainda latejar enquanto as mulheres já se afadigavam a cortá-los aos cubinhos.

No almoço do dia seguinte, mais sangue e mais entranhas.

Não tenho a certeza, mas a julgar pelo botão das calças, devo ter emagrecido uns 3 quilos no fim de semana.

Rabos

Eu já devia saber que só acordo por volta das onze, mesmo que me levante às seis e meia. da manhã E às segundas-feiras, a coisa torna-se pior.
Não é meu costume confundir as pessoas, mesmo por trás. E há rabos que são inconfundíveis. Não me interpretem mal. Não tem nada a ver com fufice mas sei apreciar um bom rabo feminino.
Hoje de manhã quando vinha a chegar de carro ao meu local de trabalho, vejo ao longe um rabo que me pareceu familiar e nem me dei ao cuidado de olhar melhor, ou quem sabe, tirar os óculos de sol. Não, simplesmente começo a buzinar feita gajo babado quando vê um rabo de encher o olho. E abrando junto à mulher para lhe dar boleia.
De repente, ela vira-se. E não me caiu tudo ao chão porque estava sentada. Afinal a dona do rabo não era quem eu pensava. Acelerei, estacionei rapidamente e corri para o meu trabalho, corada de vergonha.
Quem me manda a mim armar-me em esperta e apreciar os rabos alheios?
Mas juro: parecia-me mesmo um familiar...

03/10/2008

hugo e os sapos

Tenho uma bóia nova: o meu gato. É o Hugo, é amarelo e é bebé. E recusa-se a comer ração, da seca, o guloso. Todos os dias digo: Hás-de ter fome e hás-de comer o que te ponho na tijelinha. Mas depois o sacana mia e olha para mim com olhos de gato esfomeado, tipo o gato das botas no shrek, e lá me comovo com ele, que sou uma coiraça mas a couraça e frágil.
É uma grande responsabilidade fazer de um gato uma bóia. Por isso também arranjei uns quantos vasos com plantas. Assim, à noite, tenho um montão de coisas para fazer. A cria já se desenrasca muito bem sozinha e para não me sentir tão inútil, lá ando eu de vassoura e esfregona na mão, de regador, pázinha, sonasol verde, eu sei lá.
Vocês não percebem, mas enquanto assim me ocupo não penso na subida das taxas de juro, no vencimento que não cresce vai para dez anos, nas consultas médicas que tentam re-arranjar o meu desarranjo, no metade-de-laranja que está tão longe de ser um príncipe perfeito, nas cartas do banco que me fazem tremer enquanto as abro, nas 24 horas que não chegam para o dia.
É que uma gaja assim quase a bater os 40, às vezes sente-se com um bocado de medo, embora não o confesse a ninguém, e às vezes até gostava de ter uma espécie de rede por baixo dela, não fosse ela tropeçar do alto dos seus tacones lejanos. Outras vezes está tudo bem, e gajas assim sentem um orgulho imenso na independência conquistada, na liberdade ainda que relativa. E engolem sapos, pois então, mas quem não os engole? Há uma expressão mais politicamente correcta para isto, parece-me : solução de compromisso.

ovelha negra



Há-as sempre, negras, grisalhas, tanto faz. Normalmente primam pela diferença e, já se sabe, as diferenças são sempre mal aceites e mal entendidas. Sei do que falo, na minha família se há uma, sou eu. E não gostava que corressem comigo dos animados almoços em família, dos petiscos no quintal, das noites de natal.

Já os burros são outra coisa. Com a estupidez deles não se pode. Por isso é que eu sempre digo: Vamos correr com os burros que as ovelhas negras fazem falta ao equilíbrio.

02/10/2008

Vamos lá brindar!

Já perdi a conta aos blogs que comecei, em que escrevi um ou dois posts e depois caguei-me neles. Qualquer dia recebo uma multa do Blogger por ocupar tanto espaço.
Já escrevi coisas bonitas, coisas lamechas, coisas nojentas, coisas de fazer chorar e rir. Agora apetece-me escrever o que me apetecer. Sem pensar na prestação da casa que sobe todos os dias e na merda da Euribor, que francamente, ainda não percebi bem o que é. A gaja sobe e eu tenho que pagar. Também não quero pensar no meu ordenado que não sobe há 10 anos e o resto sobe estupidamente. Confesso: não sei até quando me vou aguentar.
Por isso decidi: vou esquecer essas merdas neste espaço. Não me apetece escrever sobre as coisas que me doem porque nasci com o dom de saber de lidar (mais ou menos) com elas com um sorriso nos lábios. E quando não consigo, bebo umas Sagres. Está bem, também subiram de preço, mas elas pelo menos fazem-me rir.
Por isso, hoje (só hoje) vou brindar à Euribor. Como se ela fosse uma gaja porreira.

escuteira

E pronto, lá deixei de fazer a boa acção do dia. Vinha a rapariga toda simpática, estender-me um folheto e pedir-me um bocado da minha medula e eu respondo o quê? Que tinha que apanhar o barco, pois claro.

De egoístas está a Terra cheia, deve ela ter ficado a pensar. E eu também. Mas a multa por ir apanhar a cria fora de horas é do meu magro bolso que sai. E ainda tinha que passar no sapateiro e ver se já tinha chegado o livro que falta lá na escola.

Acho que de nada me valeram as centenas de histórias que li em miuda com o Huguinho, o Zezinho e o Luisinho, esses irritantes patos meio vestidos.

01/10/2008

Mamonas

Acho que as minhas mamas vão crescendo à medida que eu vou envelhecendo. Em vez de ficarem flácidas e cheias de rugas, não! As putas das mamas estão cheiinhas como se estivessem a abarrotar de leite. De vez em quando, lá são chupadas, mas de leite, nem uma pinga!
Vou escrever para a "Maria". Isto das mamas anda a deixar-me desconcertada. Até a minha parceira sugeriu como meu pseudónimo Coirona Mamona. Agora que fiz nuances ando um bocado loira e só agora lá cheguei. Sua cabra!

desafinação

'dasse! Que desafinação este coro onde viémos parar. Cada um toca para seu lado, cada um mais surdo do que outro, uns com pauta, outros sem. Mesmo assim -ele há coisas do diabo- lá se vão entendendo e a música lá vai saindo.
A gente vai explicando.