06/10/2008

miss piggy


A porca estava fula, fechada da pocilga desde a véspera, sem nada para comer para poder ter a tripa limpinha quando chegasse a hora do juízo final, ou seja, da faca espetada, certeira na garganta.

Quando lhe abriram a porta, já depois de terem preparado a bancada do seu sacrifício, saíu como touro enraivecido e andou pelo meio das galinhas como se caminhasse em cima de saltos altos, ou pelo menos foi assim que as miudas pequenas viram a coisa. O passeio foi curto. Os "cowboys" depressa fizeram um laço e lho passaram no focinho. Então já a puderam arrastar até à sua última tábua, apoiada entre um bidon ferrugento e um muro.

Quatro homens lá conseguiram pô-la em cima da dita tábua. À volta a assistência, uns divertidos, outros já a pensar nos enchidos e nas febras, outros espreitando por entre dedos, que as pessoas sensíveis não gostam de ver matar galinhas, mas gostam de as comer, já a Sophia nos lembrava disto.

Depois de dura luta entre o animal e os seus carrascos, lá a imobilizaram e o homem das botas brancas de borracha espetou-lhe a faca na garganta. Neste ponto, já uma das mulheres segurava um alguidar verde para apanhar o sangue que corria como se tivéssemos aberto a torneira da cozinha.

Entre guinchos e urros, a porca lá foi morrendo, 80 quilos de carne a perder força e firmeza, as patas traseiras bem seguras por um dos homens, que ao mesmo tempo defendia a sua genitália, preparado para o famoso "esticar do pernil" da sacrificada.

Crianças, adultos, ninguém arredava pé nem afastava olhos e câmaras de filmar da morte indigna da bicha.

Com o corpo da porca ainda aos solavancos, o homem das botas de borracha branca acendeu o maçarico e começou a queimar-lhe o pêlo. Nem o cheiro nos afastou dali. Enquanto o homem continuava a queimar a porca, outro aproximou-se com um sacho e começou a raspar a pele. Ao fim de minutos, depois de quase toda a gente lá ter ido raspar um bocado, a porca estava branquinha, inerte e de manicure feita.

Duas horas depois já as mulheres coziam o seu sangue num tacho, com alho e azeite e os homens só lamentavam não ter logo começado a comer enquanto a porca ainda se sacudia despedindo-se de uma vida de engorda.

O fígado, o coração, todos os viscos das suas entranhas, pareciam ainda latejar enquanto as mulheres já se afadigavam a cortá-los aos cubinhos.

No almoço do dia seguinte, mais sangue e mais entranhas.

Não tenho a certeza, mas a julgar pelo botão das calças, devo ter emagrecido uns 3 quilos no fim de semana.

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