03/10/2008

hugo e os sapos

Tenho uma bóia nova: o meu gato. É o Hugo, é amarelo e é bebé. E recusa-se a comer ração, da seca, o guloso. Todos os dias digo: Hás-de ter fome e hás-de comer o que te ponho na tijelinha. Mas depois o sacana mia e olha para mim com olhos de gato esfomeado, tipo o gato das botas no shrek, e lá me comovo com ele, que sou uma coiraça mas a couraça e frágil.
É uma grande responsabilidade fazer de um gato uma bóia. Por isso também arranjei uns quantos vasos com plantas. Assim, à noite, tenho um montão de coisas para fazer. A cria já se desenrasca muito bem sozinha e para não me sentir tão inútil, lá ando eu de vassoura e esfregona na mão, de regador, pázinha, sonasol verde, eu sei lá.
Vocês não percebem, mas enquanto assim me ocupo não penso na subida das taxas de juro, no vencimento que não cresce vai para dez anos, nas consultas médicas que tentam re-arranjar o meu desarranjo, no metade-de-laranja que está tão longe de ser um príncipe perfeito, nas cartas do banco que me fazem tremer enquanto as abro, nas 24 horas que não chegam para o dia.
É que uma gaja assim quase a bater os 40, às vezes sente-se com um bocado de medo, embora não o confesse a ninguém, e às vezes até gostava de ter uma espécie de rede por baixo dela, não fosse ela tropeçar do alto dos seus tacones lejanos. Outras vezes está tudo bem, e gajas assim sentem um orgulho imenso na independência conquistada, na liberdade ainda que relativa. E engolem sapos, pois então, mas quem não os engole? Há uma expressão mais politicamente correcta para isto, parece-me : solução de compromisso.

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