28/10/2008

o parvo no cais

Ao menos uma encruzilhada. Ou até mesmo como o outro que não sabia por onde iria, mas sabia por onde não iria.
Mas esta coisa de nem se ver caminho à frente, de não se fazer a menor ideia daquilo para que se acordará. De não se ter planos, projectos, expectativas. Esta coisa de pôr um pé à frente do outro, de saber que um dia igual se seguirá ao presente, de não se caminhar para lado nenhum específico.
Assim uma pessoa cansa-se. Às vezes até lhe apetece recusar-se a andar. Ninguém acena com uma cenoura, não há desenhos dobrados na carteira à espera de vez, não há datas marcadas nem por marcar.
Projectos são combustível. Andar para quê? Para onde? Por quanto tempo?
Era o parvo, não era?, que ficava no cais. Nem paraíso, nem purgatório, o limbo, a indefinição, a fronteira, o lugar sem nome.
Trabalhar, comer, dormir. Ao menos que não pensasse. Que ficasse a ver as barcas, ou melhor, a ver navios, no maldito cais onde se espera por nada.
Onde nos levam os nossos dias? Como aceitar que a vida é para se ir vivendo se o que se tem é mera existência? Como sanar a tristeza e a decepção se não se pára de pensar, se a imobilidade dos dias não contagia a do cérebro?
Uma pessoa quer coisas. Quer fazer coisas. Construir. Sentir. Viver. Planear. Esperar. Ter um objectivo. Um objecto.
Não é?

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