13/11/2008

ar fresco

Às vezes, quando já estamos fartas de escrever no caderninho das coisas boas apenas a frase "não fui atropelada", num dia em que pensamos que estamos na rua com o mesmo jeito altivo, a mesma cara simpática, a mesma afabilidade no trato com os outros, alguém vê mais além. Como este meu amigo. Que me disse que posso sempre contar com ele. Que me lembrou que a qualquer hora do dia ou da noite o posso chamar. Que me deu dois beijos carinhosos na testa, me fez uma festinha na cara, me apoiou a nuca e me disse que ficava triste por me ver de olhos molhados. No dia em que pensamos que ninguém dá por nada, que ninguém pode notar que o nosso mundo se desmorona aos poucos, mas violentamente. Nesse dia pode haver uma lufada de ar fresco. E nesse dia, não podemos, sob pretexto nenhum, nunca mais, de forma nenhuma, lamentar que esse ar fresco não venha de outro lado. É aceitar as coisas como são, o que devemos fazer. Deixar que as coisas se complementem, quando o que queríamos completo não o é. É sorrir, mesmo que os músculos não queiram obedecer, levantar ainda mais o queixo e bater ainda com mais força com os tacões no chão, ao caminhar. E caminhar sempre, mesmo que doa, mesmo que tudo sangre, não importa, isso não diz respeito a ninguém.
A não ser aos amigos que nos dão um beijo na testa porque se entristecem com a nossa tristeza.

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