12/11/2008

Luna

Dizia o poeta que um sonho morre sempre às mãos de outro sonho. Eu acredito. Dizia a minha psicóloga que não podemos seguir em frente sem fazer o luto do que deixámos para trás. Também já acredito.
Para muitos isto poderá não ter nada a ver com o que se segue, mas para mim, dadas as reviravoltas cognitivas de que sou capaz, tem.
Enquanto morava com os meus pais, tivémos um cão, o Paquito. Viveu 16 anos e apaixonou-nos a todos, lá em casa. Era um cão fantástico, meigo e esperto, brincalhão até aos últimos dias, mesmo quando as cataratas já não o deixavam ver o quintal. Não lhe acompanhei o declínio tanto como os meus pais, porque entretanto já tinha saído de casa, mas a sua morte nem por isso me deixou menos triste.
Agora o meu pai, de regresso do alentejo, trouxe mais um, aliás, é uma menina, uma cadela, preta como asas de corvo, bebé, monte de carne indefeso. Chamámos-lhe Luna, depois de conferência familiar, que a cadelita há-de ser, não só deles, mas da minha filha e minha também.
Provavelmente a minha mãe não tinha ainda acabado o luto pelo Paquito, afinal, há apenas dois anos que morreu. Ou então, tem medo de outra desilusão, de outra perda, como a podemos culpar?, e só depois de muita insistência aceitou pegar na Luna e fazer-lhe festas.
Não há amor como o primeiro, dizem, mas há de certeza amor depois do primeiro, mesmo aplicado a um animal de que cuidamos.
Não sei se vejo na Luna uma espécie de prolongamento do Paquito, que também trouxémos do alentejo ainda bebé, a verdade é que a cadelita me emocionou mais do que o Hugo, o meu gato. Chegada a casa, algum sentimento de culpa por achar que não gosto assim tanto dele, mimei-o, brincámos, dei-lhe os petiscos de que mais gosta. O Paquito é o Paquito, há-de ser sempre, nenhum outro animal ocupará o seu lugar, mas isso não pode impedir que os nossos afectos de estendam a outros.
Afinal, o nosso amor pelos animais não será tão diferente assim do nosso amor por algumas pessoas.

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