Quando eu era miuda, os meus pais diziam que eu era bicho do mato. Não era, na verdade, apenas era já muito selectiva na escolha dos meus amigos e fazia questão de diferenciar os amigos dos conhecidos. Como ainda hoje faço. Conhecidos tenho muitos, amigos, chegam os dedos de uma mão para os contar, e ainda sobram. Sou exigente na amizade, como sou no amor. Estes sentimentos não são coisa que se desperdice em qualquer um. E sou tão inflexível quanto às falhas como sou fiel aos que não me falham.
Todavia, mesmo com esses amigos incondicionais, os que já deram todas as provas, aqueles a quem já provei tudo, reservo-me. Imagino-os, por vezes, sentados juntos à mesa, no dia do meu funeral, a falarem de mim. Juntos conseguirão fazer o puzzle, e sei que só então verão a imagem completa. Culpa minha, que não deixo ninguém conhecer-me. Mesmo assim amam-me. E deixam-me amá-los. E essa será sempre a gaveta mais preciosa do meu cofre.
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