26/11/2008

puzzle póstumo

Quando eu era miuda, os meus pais diziam que eu era bicho do mato. Não era, na verdade, apenas era já muito selectiva na escolha dos meus amigos e fazia questão de diferenciar os amigos dos conhecidos. Como ainda hoje faço. Conhecidos tenho muitos, amigos, chegam os dedos de uma mão para os contar, e ainda sobram. Sou exigente na amizade, como sou no amor. Estes sentimentos não são coisa que se desperdice em qualquer um. E sou tão inflexível quanto às falhas como sou fiel aos que não me falham.

Todavia, mesmo com esses amigos incondicionais, os que já deram todas as provas, aqueles a quem já provei tudo, reservo-me. Imagino-os, por vezes, sentados juntos à mesa, no dia do meu funeral, a falarem de mim. Juntos conseguirão fazer o puzzle, e sei que só então verão a imagem completa. Culpa minha, que não deixo ninguém conhecer-me. Mesmo assim amam-me. E deixam-me amá-los. E essa será sempre a gaveta mais preciosa do meu cofre.

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