02/11/2008

da noite

A noite para mim é apenas o momento em que consigo estar comigo própria. Penso em tudo. Nos dias que passaram, nas noites longas, na tranquilidade que já devia merecer. E penso em escrever. Penso nos dias de amanhã. Não tenho saudades das noites em bares com alguns supostos amigos, em que nos encharcávamos em bebida e conversas sem sentido. No dia seguinte, já nada tinhamos para dizer uns aos outros. Os outros não interessavam, só no momento.
As minhas noites já foram de paixão, de amor, de insónias, de embalos, de choro, de solidão. Já as experimentei de todas as formas. E continuo a receá-las, tal como em criança, quando o escuro se instalava e eu procurava uma luz para afastar o medo. A minha mãe costumava deixar-me a luz do corredor acesa para amenizar as horas que esperavam o dia. Hoje, não está aqui para ma deixar acesa e agora mulher, não lhe consigo dizer que continuo a ter medo do escuro, porque é nessas horas que tudo nos vem à cabeça. Por isso tomo um comprimido, como se substituisse a sua mão nos meus cabelos, dizendo-me que tudo vai correr bem, que o papão não vem, até porque não existe. Hoje os meus papões têm outra forma. Visitam-me na noite, obrigando-me a não fechar os olhos porque sei que a claridade trar-me-á mais um dia difícil.
Escrevo na noite, em silêncio, dedilhando no computador como se isso me aliviasse. E penso que a minha vida daria um romance ou thriller. Tinha argumento suficiente para fazer um filme. O tal livro que gostava de escrever mas que não consigo.
Quando a noite chega e não me apetece escrever desato a fazer limpezas como uma penitência. Para me castigar pelos passos que dei e não devia ter dado, pela coragem que devia ter tido e não tive. E por esta maneira estúpida de ser.
Não sei quantas mais noites virão e tento adivinhar qual delas me permitirá dormir sossegada, sem comprimidos, sem refúgios, sem sobressaltos...

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