25/11/2008

sem retorno

Há este filme de 1997 com o Sean Penn, que é daqueles que a gente vê uma vez e do qual se lembra uma data de vezes durante a vida. Porque está muito bem feito, porque é a clara imagem daquilo que é o resultado dos passos que damos, das opções que fazemos, do que dizemos ou do que calamos. O filme chama-se Sem Retorno e é assim que muitas vezes nos encontramos.
Toda a gente sabe que depois de se dizerem certas coisas, por mais que tentemos refrasear, por mais que peçamos desculpas, não há volta a dar. Isto passa-se com coisas que dizemos, mas também com coisas que fazemos e até com coisas que pensamos. É ou não difícil tomarmos mentalmente uma decisão e depois voltar atrás, mesmo que não tenhamos dado conta dela a ninguém?
Vejamos um exemplo: Há estas duas pessoas, um homem e uma mulher que em determinado ponto se apaixonaram. Sendo duas entidades diferentes, necessariamente sentem e agem de formas distintas. Imaginemos que ela, a mulher, que elas são mais dadas a estas coisas, está disposta a entregar-se de alma e coração. Que põe de lado a lista de resoluções que a vida e a idade lhe redigiram, que aposta, que acredita. Imaginemos que ele, o homem, nem por isso. Que se mantém a uma distância prudente, colando no sítio mais visível da porta do frigorífico a lista de decisões que a sua vida e a sua idade também lhe redigiram. Ela, a mulher, ainda esperneia um bocadinho, ainda regateia, ainda pede, mas ele, o homem, mantém-se inflexível. Por defesa, que todos os animais, mesmo as mulheres, apuram o seu sentido de sobrevivência, a mulher começa também a retraír-se, o mesmo é dizer, deixa de lhe apetecer dar tanto, fazer cedências, apostar e começa mesmo a pôr em causa aquilo em que acreditou. Neste processo, inevitavelmente, a paixão esfria por ser constantemente aspergida com razões, as tais que, dizem, o coração desconhece.
Então, sem saber como, ela, a mulher, vendo que recebe tão pouco daquilo que esperava, puxa o véu, ou a concha, ou a janela, ou qualquer outro lirismo barato que a impeça de dar mais do que recebe e assim se protege, se defende, afastando-se.
O que é que isto tem a ver com o filme? O nome, evidentemente.

1 comentário:

Anónimo disse...

é sempre bom dar uma espreitadela aqui ao blog, fica-se logo a perceber, ou perceber melhor, o que pensas ou sentes