20/11/2008

saudades

Tenho saudades da minha avó. Do seu cheiro a lareira. Do seu amor. De a ver tentar ordenar a confusão que era a sua casa quando lá estávamos todos. Da sensação de felicidade e segurança que era estar com ela. De a ver levantar-se a custo da cadeira. De me chamar filha. Do trejeito que fazia aos lábios quando ria. De chegar à rua, na aldeia, e de a ver encostada à ombreira da porta à nossa espera. Da sua insistência para pormos mais um cobertor na cama. De a ouvir dizer que tivesse mais calma com o meu pai. De a ver envergonhada quando o meu avô lhe fazia um carinho. Tenho saudades da casa quando ela estava. De estarmos todos à sua volta. De sermos um todo, com tanta segurança que nem pensávamos nela.
Tenho saudades de a ver curvada a cuidar das malvas e das roseiras. De a ver dobrar as notas muito bem dobradinhas para as arrumar no porta-moedas. De a ver pôr na mesa tudo o que tinha para comermos, chegados da viagem. De a ter em minha casa, radiante e radiosa. De lhe ajeitar o lenço que usava na cabeça e de lhe fazer uma festa na cara.
Tenho saudades de quem eu era com ela. Da âncora que foi em sua casa e na nossa família. Do amor que votava a todos nós.
(Aqui está a minha avó, rodeada pelas netas e bisnetas, falta o resto, imenso.)
Tenho saudades.

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