13/11/2008

solidão

Já repararam? Se virmos alguém, na rua, sozinho, a rir, olhamos de lado como se essa pessoa estivesse louca. E se virmos alguém a chorar, na rua, sozinho, desviamos o olhar em vez de tentar um consolo. Fugimos com os olhos porque temos medo. De saber porque chora. De nos envolvermos. De nos lembrarmos do que somos. Ninguém estende a mão a ninguém. Ao nosso lado estão a chorar, mesmo com os óculos escuros que o tentam disfarçar, e ninguém diz a quem chora "Vai passar."
(Um dia, numa esplanada perto da praia, num dia de outono com sol, uma velha sentou-se na mesa a meu lado, despiu-se da cintura para cima, as mamas velhas, peles descaídas -talvez uma dessas velhas que envelhecem sozinhas com os seus gatos- e ficou ali, descontraidamente a apanhar sol. Os homens que passavam, riam. Algumas mulheres olhavam-na de fugida, incomodadas. Ela, a velha, não se mexia, de frente para o sol, alheia aos outros. Assim ficou até que o empregado de mesa lhe disse que não podia estar ali, assim.)
Os outros são sempre um espelho de nós.

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